"D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmura na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre seca, insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre íntimos se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudiadas tantas vezes, e segundo, material prova, se necessária ela fosse, porque abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na praça". Memorial do Convento | “A maioria das mulheres estéreis passa anos de vida a tentar ultrapassar as suas limitações fisiológicas. Mais vezes que menos falhamos, E de cada vez que falhamos ficamos com raiva de nós próprias. (…) Mais do que a dor, mais do que o vazio a sensação verdadeiramente violenta que se apodera de nós como uma garra de cada vez que falhamos é a sensação de vergonha. E por isso ficamos caladas”. Prefácio de Clara Pinto Correia in Marujo, H ( 2004). A Dor Secreta da Infertilidade. |
A maioria de nós não dedica uma especial atenção ao tema da infertilidade. Não se pensa no drama íntimo daqueles que lidam com ela. Parir é dor no momento, mas não o poder fazer é uma aresta cortante que nunca nos larga. E a não ser que uma mulher se case com um rei e o país pare à espera de um herdeiro, a maioria das vezes a infertilidade é pouco visível. Atinge uma minoria e essa minoria é silenciosa. Uma simples pinta branca num quadro colorido…
Mas tudo começou numa tarde de Outono com um cheirinho ainda a Estio, que se fazia sentir bem no Parque Expo. A reunião tinha pouca gente e de forma tranquila e agradável apresentaram-nos a missão: pensar, em conjunto com os nossos alunos- adolescentes, as técnicas da luta contra a infertilidade e a dor de quem não pode ter filhos. Embrulhadas na Ética, na Lei e na Moral consignadas ao tema.
Numa idade em que a ideia de planeamento familiar é unicamente direccionada em “como não os ter de forma alguma” a tarefa não parecia fácil. O tema é curricular mas iria estender-se em termos temporais até Março.
Como fazer?
Primeiro fizemos pesquisas e mais pesquisas…E outras coisas!
Do Fórum fugiram um pouco. Porque as professoras podiam controlar o que não sabiam, num assunto que ainda não assumiam totalmente. Porque os investigadores os intimidavam. Muito a medo algumas perguntas surgiram “porque tinha de ser”. Mas não foi de coração.
Do Fórum fugiram um pouco. Porque as professoras podiam controlar o que não sabiam, num assunto que ainda não assumiam totalmente. Porque os investigadores os intimidavam. Muito a medo algumas perguntas surgiram “porque tinha de ser”. Mas não foi de coração.
Entretanto fomos fazendo outras coisas…
A ida ao Congresso com os “eleitos” foi uma festa. E o entusiasmo desses começou a contagiar. Construíram-se os grupos. Definiram-se os trabalhos.
Houve algumas almoçaradas dadas por mães generosas.
Houve tempos roubados pelas professoras e tempos dados pelos alunos.
Não surgiram muitas zangas e amuos. E houve bonomia na aceitação das críticas.
Pouco a pouco começaram-se a divertir e a aprender.
Uns mais do que outros. Como sempre!
Gastaram-se aulas a programar e outras a executar e a avaliar. A informática deu-nos dores de cabeça e nem sempre ajudou!
Mas finalmente chegamos ao fim. O resultado surge na forma de 2 jogos de mesa, uma Peça-Debate e um Quiz. A ideia geral será construir um mundo variado de divulgação e discussão sobre a PMA, com papel, tesoura e cola, acompanhadas de muita criatividade e disponibilidade. E, fundamentalmente, um mundo acessível a todos. Para os que já sabem muito e para os que se querem iniciar.
À laia de conclusão podemos afirmar que foi boa a experiência. Herdamos material para os que virão. Feito com cuidado e com humor. O tema não lhes é dramático. Mas “o bichinho” ficou. Não vão mais ficar alheados do peso das mágoa de quem não consegue dar a vida. Não vão mais ignorar a luta dos que usam a ciência médica para o fazer.
E depois quem sabe? Num futuro próximo talvez mesmo alguns consigam aprender a ajudar...
Oeiras, Março 2012
As professoras
Ana Salazar Braga (12º D) Fernanda Agostinho (12ºA)
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